Associado do SINPOL-RS, o Delegado de Polícia, Cleiton Freitas, faz advertência sobre a saúde mental do Policial Civil.
UM ALERTA NA POLÍCIA!
Delegado Cleiton Freitas*
Falar acerca do assunto “suicídio” é difícil, dentro das instituições de Segurança Pública, mais ainda, quase um tabu, pelo assombro misterioso causado diante de alguém que atenta contra si próprio, causando a cisão de si, talvez devido ao fato de portarmos armas ou de nos acostumarmos a enfrentar o perigo e as mazelas humanas cotidianamente, permeados que somos de narrativas sobre o “heroísmo” de nossa atividade.
Fato é que a taxa de suicídios de policiais é quase 8 vezes maior do que da população em geral. Só essa constatação já é algo que deveria gerar alerta em todos, em especial pelos gestores dessas instituições.
As características da nossa profissão contribuem para isso: maioria homens, mais relutantes em procurar ajuda; cobrança social e das instituições policiais diante da demanda insuperável; stress; convívio com o perigo e, principalmente a cultura masculinista, hegemônica nas policias, onde força, honra, destemor, hombridade são valores que permeiam nossas identidades funcionais, dificultando mais ainda qualquer movimento em busca de apoio, acompanhamento, tratamento ou ajuda.
Temos que reconhecer nossos limites e necessidades de cuidados com a saúde mental. Atenção aos sinais que nosso corpo oferece: desconfortos, dificuldade para dormir, de concentração, intolerâncias, apatias, abuso de álcool ou drogas. Tudo isso indica necessidade de buscar ajuda.
Meu apelo é aos gestores das polícias para que cuidemos do nosso maior patrimônio: nossos servidores e servidoras policiais. Sem estes preservados, não há estratégia ou tecnologia que funcione no combate à criminalidade. Cuidar dos cuidadores, reforçar o trabalho das equipes de da saúde com visitas às delegacias para avaliações, palestras, envolvimento da Acadepol durante formação dos novatos, campanhas junto aos sindicatos e associações sobre a saúde mental.
A polícia não pode fingir ou esconder que nada está acontecendo.
Nós ganhamos com isso.
A sociedade ganha com isso.
*Delegado de Polícia RS
Atua na 18ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre